Quem quer falar sobre a sua morte?

Ninguém. Ou quase ninguém. Talvez algumas pessoas queiram dar pitacos na morte dos outros, mas na sua, difícil.

Sai para lá, não quero atrair, falar na morte chama quem está quieto…

Será?

Falar sobre a morte é libertador. A hora que se percebe que ao falar sobre a morte é preciso desenhar um cenário, é necessário olhar a vida de frente, enxergando onde se está e para onde se vai, ou melhor, onde se está e como se vai embora, a vida fica mais leve, as perspectivas do que se quer ficam mais claras, os monstros do dia a dia saem de trás da porta.

As coisas passam a ter a real dimensão. Os desafios deixam de ser enormes, as brigas deixam de ser grandes e os desejos assumem o protagonismo. São eles quem passarão a comandar a vida.

Quer viajar ou comprar um novo eletrodoméstico? Quer ir jantar fora ou comprar um novo objeto? Quer visitar o amigo ou ficar vendo novela?

O tempo passa a ser a principal moeda e é preciso valorizá-lo, pois ele é finito. Quanto de finitude ele tem? Ninguém sabe. Seu número é diferente para cada um, mas seu peso passa a valer ouro e saber o quanto se está disposto a  usá-lo ou desperdiçá-lo vai depender do quanto se adquiriu de consciência de sua importância no dia a dia.

O parabéns para você  é para muitos anos de vida, no entanto, a cada aniversário, a caminhada fica mais curta em direção a uma nova história, que poderá ser contada de diversas maneiras: um acidente, um infarto, um AVC, uma doença crônica, uma demência… Não importa muito a forma, o fato é que haverá um fim. E quando existe a certeza que “pode acabar”, é mais fácil lidar com os problemas cotidianos, porque a importância de cada coisa fica com a sua devida proporção.

Falar sobre a morte é difícil, pensar pode ser desesperador, mas a partir do momento em que se tem coragem para começar a,  pelo menos, considerar a possibilidade de um fim, fica fácil encarar a finitude, reorganizar a vida, dar valor para o que realmente é importante, olhando menos para a acumulação material e aumentando o espaço para a troca, o relacionamento, as conversas e a vida.