Achar que tudo acaba é horroroso
Sexta-feira peguei um táxi e, em determinado momento, a conversa enveredou para o meu trabalho de ajudar as pessoas a pensarem na sua morte, definindo que tratamentos querem ou não ter, que coisas ainda gostariam de fazer enquanto habitam o planeta Terra e que providências precisam tomar para que a partida seja a mais suave possível.
O taxista, que nunca pensou na possibilidade de uma finitude, perdeu o rumo. Ficou nervoso, fez o sinal da cruz, achou que esse assunto era proibido e, depois de algum tempo, começou a relatar casos de conhecidos: “e esse meu amigo, quando ele descobriu que não tinha mais jeito, disse para o médico: não quero esse ano com sofrimento. Prefiro os 5 comendo, bebendo e fumando. E assim foi, ele durou mais três meses”.
Depois contou do sogro, que não estava preparado para receber um diagnóstico terminal, mas que não queria ir embora de jeito nenhum e ficou brigando com a morte, até ser vencido, extremamente debilitado, sofrido e triste.
Defendo a morte digna, isto é, que a pessoa morra com dignidade. Sem muito sofrimento desnecessário. Porque tem horas, que não adianta teimar. A partida é iminente. E na teimosia, a pessoa sofre, é judiada, perde autonomia, perde a dignidade, perde tudo e vai embora do mesmo jeito, amargando muita dor, debilidade e perda patrimonial.
A lei é clara ao dizer que ninguém precisa ser submetido a tratamentos degradantes se não quiser. muitas pessoas não sabem que tem o direito de recusar tratamento, cirurgia e, ainda, que podem escolher ir para casa e morrer com a família.
Carlos Mendes, entrevistado no Canal Angelini (https://www.youtube.com/watch?v=Gn_QGKfwfd8&t=411s), disse que um diagnóstico terminal é muito difícil. Requer mais do que força e tenacidade, é um balde de água fria nos planos e sonhos a curto, médio ou longo prazo, além de uma mudança de vida. Exige uma força interior muito grande e pede força de vontade para encerrar processos e não começar novos, porque a partida está muito próxima e é relevante terminar o que foi começado.
Quando as coisas estão boas, não queremos que acabe. Mas para quem está em sofrimento, a perspectiva de um fim pode tanto ser um alívio, uma benção, quanto o período mais difícil de passar na vida, com ou sem a família.
Sempre temos que lembrar que não somos deste planeta. Apenas estamos por aqui, de passagem, por um tempo, para aprender ou não coisas novas e tentar, ao máximo, ser feliz.