Não quero dar trabalho para ninguém
De todas as afirmações que ouço, “não quero dar trabalho para ninguém” é a campeã. A segunda é “não quero ficar sofrendo em um hospital”. A impotência diante da doença, o medo de ficar ou de se sentir incapaz imperam no inconsciente coletivo.
A grande questão é que as estatísticas mostram que a maioria da população vai morrer de alguma doença terminal. Pesquisa do Instituto Datafolha realizada em 2018 mostra que 86% dos entrevistados têm medo de perder a independência e “dar trabalho”.
O fato é que não sabemos o que vai acontecer quando ficarmos doentes. Se não tivermos a sorte de morrer de repente – por acidente ou por um ataque fulminante – teremos que nos conformar e enfrentar o que nos espera: hospital, tubos, UTI, morfina…
Será que precisa ser assim?
Não, não precisa. Não precisa mesmo. Mas como mudar esse futuro indefinido, talvez nebuloso?
Se sabemos que no nosso final de vida há uma chance de morar e terminar o resto dos dias em um hospital; se temos consciência que essa possibilidade é grande; se temos uma possibilidade de mudar esse futuro e ter uma morte digna: por que vamos ficar esperando não morrer com dignidade e ver esse dia chegar sem preparar um contra-ataque?
Sim, ele existe. O contra-ataque tem nome: Testamento Vital. E sobrenome: Diretivas Antecipadas de Vontade.
A existência da possibilidade de escolher os tratamentos a que se será submetido, a capacidade de pensar a finitude e informar o médico para que conste em protocolo seus desejos e, mais do que isso, deixar por escrito o que se quer e como se quer é garantido pela Resolução 1995/12 do Conselho Federal de Medicina.
Deixar por escrito, preferencialmente registrado em Cartório é uma arma importante para contra-atacar o que pode estar por vir. Porque as certezas serão amadurecidas, o querer será repensado e, o melhor, se na hora “h”, houver arrependimento, é possível cancelar o documento.
No entanto, se o médico não for previamente informado, se não houver um documento escrito, na hora “h”, dificilmente alguma coisa poderá ser feita. E, dependendo da doença terminal, vai restar apenas a amargura de engolir calado os tratamentos propostos. Mas não se preocupe, sobre esse e outros temas desse assunto, falaremos em outro post.